É sempre revelador detectar o nexo entre os artigos que compõem cada edição da Revista Iandé. Com exceção dos números dedicados a dossiês temáticos, a revista publica trabalhos recebidos em fluxo contínuo, então o tema de cada número toma forma depois de um longo processo. Os textos recebidos são encaminhados a avaliadores que fornecem orientações para o aprimoramento da pesquisa. São então retrabalhados pelos autores e finalmente chegam à fase de revisão, editoração e publicação. Considerando que nem todos os autores persistem no processo fundamental da publicação acadêmica que é a revisão por pares e reescrita do texto -- provavelmente um efeito da era do imediato e das endorfinas produzidas por emojis de aplausos superficiais --, a seleção final de artigos carrega nas entrelinhas um forte desejo dos autores de levar a público temas, hipóteses, argumentações bem elaboradas e refinadas ao longo de meses. O que é esse desejo? O conjunto de artigos deste número da Revista Iandé nos sugere que é desejo de alternativas éticas e epistemológicas para a reconstrução do Brasil. Em meio à crise de segurança alimentar que abate o Brasil durante a catastrófica administração da pandemia, Raquel Canoso fornece dados sobre a região do país que mais sofre com a fome, o Nordeste, em um texto que não só recorda os anos em que o Brasil saiu do Mapa da Fome da FAO como também elenca soluções para o aproveitamento dos recursos de produção de alimentos e combate ao desperdício, defendendo a premissa tão óbvia quanto ignorada de que produção agrícola deve servir ao combate à fome e não ao lucro do agronegócio. Elaine Maria de Moura Souza discute os desafios para o desenvolvimento industrial brasileiro, e Débora de Araújo Bastos apresenta os primeiros resultados de uma pesquisa sobre educação ambiental no ensino fundamental. No âmbito das relações internacionais, a incredulidade que nos perpassa a respeito dos rumos ideológicos do governo federal é o motor da pesquisa de Stefano Andrade Tomei sobre as obscuras referências intelectuais do ministro das relações exteriores. O artigo de Bruna Amaral Gurgel Xavier escreve uma parte dolorosa da história da desigualdade de gênero no país com o estudo sobre o tratamento dado pelo Estado a adolescentes infratoras na década de 1950. Literalmente em busca de "outras perspectivas", o texto de Guilherme Guimarães Sebastião investiga a representação do mundo na forma de paisagem, e apresenta alternativas na técnica fotográfica que podem alargar nosso olhar sobre o espaço das cidades. No mesmo movimento de expansão da representação tradicional e portanto das possibilidades de pensar sobre o mundo, Gilberto Ferreira da Silva apresenta a obra de artistas indígenas contemporâneos e Dener Nascimento Savino discute a diferença entre obra de arte e objeto estético, salientando a relevância deste último como forma mental que propicia a experiência estética transformadora. Os editores agradecem aos autores e às autoras pela dedicação a seus temas de pesquisa, aos avaliadores que colaboraram na seleção e aprimoramento dos textos e à equipe da Revista Iandé, que a cada número realiza nossos desejos de construirmos uma sociedade justa, fundamentada no pensamento científico e na vitalidade da arte.
Paula Braga e Leonardo Freire de Mello (Março/2021)

Publicado: 05.04.2021

DOI: https://doi.org/10.36942/iande.v5i1.457
DOI: https://doi.org/10.36942/iande.v5i1.267
DOI: https://doi.org/10.36942/iande.v5i1.430
DOI: https://doi.org/10.36942/iande.v5i1.258
DOI: https://doi.org/10.36942/iande.v5i1.128

Vozes resistentes na e da aldeia

da colonialidade às expressões artísticas indígenas contemporâneas

Silvania Lúcia Chaves Assis, Patrícia Gusmão Maciel, Liliane Kolling, Gilberto Ferreira da Silva

58 - 72

DOI: https://doi.org/10.36942/iande.v5i1.330
DOI: https://doi.org/10.36942/iande.v5i1.219
DOI: https://doi.org/10.36942/iande.v5i1.262
DOI: https://doi.org/10.36942/iande.v5i1.207