Uma pesquisa começa com uma pergunta. Algo no mundo incomoda, intriga e assim impulsiona o pesquisador a ir a campo ou a ler sobre assuntos que possam responder à dúvida original. Surgem alguns vislumbres de respostas – as hipóteses – e a partir daí o aprofundamento da pesquisa encontra sua meta: desenvolver uma argumentação que comprove a validade da hipótese. Não é fácil ter uma pergunta. Às vezes o sentimento de incômodo com uma situação nos engolfa em mal-estar difuso. Pesquisar, então, torna-se um alívio, porque dá forma à nuvem de consternação, dominando-a e transformando-a em dados, análises, descrições, redes de causalidades e, finalmente, em proposições. Por isso, cada edição da Revista Iandé é uma amostra das perguntas sobre o mundo que jovens pesquisadores elegeram responder. Na edição que se segue, muitas dessas perguntas abordaram os rumos da cultura no Brasil, como no artigo de Graciela Medina sobre coletivos de cultura e nos relatos de vivências em espaços culturais da cidade de São Paulo tão distintos quanto uma roda de samba, um cabaré, uma ópera, um festival de anime, entre outros espaços visitados por estudantes de graduação da Profa. Lívia de Tommasi. Em uma época de censura e restrição de fomento público a propostas culturais libertárias, não é exagero enfatizar a riqueza desses relatos como prova da diversidade de experiências que o setor cultural da sociedade já provê, para que cada um procure livremente o que vivenciar, sem tutelagem. A questão da liberdade também incitou as perguntas de Fellipe Sena sobre a repressão à sexualidade durante o governo nazista na Alemanha, e aparece nas reflexões de Daniela Zago sobre os danos sociais e ambientais da sociedade do consumo, que culminam no sofrimento por privações básicas analisadas por Arquias Cruz em um estudo sobre a fome em São Paulo e no artigo de Lucas Mathias sobre sofrimentos físicos e mentais do trabalhador na era da uberização. No contexto das relações internacionais, o nacionalismo no Japão estudado por Ayana de Moraes e a análise feita por Renato Bilotta das doutrinas de política externa dos EUA nos anos Eisenwoher, adaptados a interesses momentâneos de um governo, tanto investigam casos específicos quanto nos alertam para perigos que nos espreitam. Ler a Iandé é uma forma de compreender as intuições da juventude sobre as dúvidas contemporâneas. Boa leitura.
Paula Braga e Leonardo Freire de Mello (dez. 2019)
Publicado: 05.12.2019