Edição Atual

v. 3 n. 1 (2023)
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Vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFABC (PPGFIL - UFABC), a Revista de Filosofia Instauratio Magna é organizada por seu corpo discente e visa oferecer um espaço de divulgação e debate das pesquisas acadêmicas em Filosofia que vêm sendo desenvolvidas no âmbito dos Programas de Pós-Graduação brasileiros. O periódico partilha das características da Filosofia na Universidade Federal do ABC: preza pelo rigor na análise dos textos junto à história da filosofia e se mantém aberto à questões contemporâneas e à interdisciplinaridade.


O foco da Revista são as produções e investigações acadêmicas filosóficas, o que inclui também trabalhos interdisciplinares que estabelecem relações com a Filosofia, em acordo com o Projeto Pedagógico interdisciplinar da UFABC. Reforçamos que todas(os) as discentes de Programas de Pós-Graduação em Filosofia e/ou em outras áreas, que tenham interesse em publicar na Revista, são bem-vindas e bem-vindos.

 

Nota Introdutória:

Francis Bacon denominou Instauratio Magna sua maior obra filosófica, a qual começou a ser publicada em 1620. Agora, 400 anos depois, com a escolha deste nome não gostaríamos de render uma homenagem a Bacon ou sua filosofia. O que nos interessa é evocar o espírito de desconforto incitado pela investigação filosófica, esta motivação que arrebata e instiga qualquer ser humano tomado pela cólera filosófica, que também se manifestou em Bacon.

Desse modo, a filosofia não está toda dada na metafísica fantástica que escapa por completo da realidade material, nem na ciência experimental e aplicada, preocupada apenas com aspectos quantitativos, mas sim entre o universal e o particular, sem deixar de lado, no entanto, a dor e o sofrimento do mundo, pretendendo alcançar os limites dos saberes humanos.

A intenção, portanto, de termos escolhido tal nome é instigar a revelação do óbvio recôndito, que esgueira nas sombras das próprias obras humanas, tarefa a ser cumprida pela filosofia em sua relação conflituosa com a tradição, a qual serve de orientação para que, dentro de nossa perspectiva, tomemos os diversos autores e autoras, obras e tratados agora menos como ídolos e mais como contrapartes em nossas investigações. Tal como Bacon, que busca livrar a ciência da idolatria em prol de um conhecimento construído coletivamente, em relação.

Pretendemos, assim, livrarmo-nos do catecismo filosófico e, parafraseando Bacon, das antecipações dos tex tos, passando à interpretação do mundo. O tex to filosófico revela seu mundo, isto pode ser compreensível, mas não devemos nos prender a ele, devemos nos guiar pelo mundo em que vivemos, utilizando-se da tradição. Tendo isso em vista, não é possível recusar a necessidade de subversão constante, levando em conta o que hoje são problemas da filosofia e que, antes, não eram questionados. Esse é o espírito desta publicação, que parte, portanto, para a disputa em torno do significado da restauração filosófica, instaurando em seu seio temas antes recusados. Filosofias não ocidentais, decoloniais, antirracistas e feministas são não apenas bem-vindas, mas fazem parte, de maneira inseparável, de nossa missão enquanto publicação. Francis Bacon, o autor da Instauratio original, é por vezes uma figura controversa em nossos tempos, dada sua filosofia, as interpretações e consequências dela. Dado que ele negligenciou esses temas que agora nos parecem urgentes, nossa intenção é implodir sua proposta por dentro, reivindicando um lugar que se mostra não apenas possível, mas necessário, sem deixar de ver na tradição filosófica uma fonte de questões e problemas com os quais precisamos lidar.

Por fim, deixamos as leitoras e leitores desta humilde publicação resguardados, portanto, de nossas intenções, abrindo a oportunidade para qualquer uma ou qualquer um que pretenda acompanhar-nos neste trabalho.

Fazemos nossas, por fim, as palavras de Bacon:

De nossa parte silenciamos: quanto àquilo de que aqui se trata, no entanto, pedimos que os homens não o considerem uma opinião, mas um trabalho sério; e que estejam convencidos de que lutamos para assentar os fundamentos não de alguma seita ou opinião arbitrária, mas sim para a utilidade e o engrandecimento da humanidade. E, então, que se preocupem com o bem comum (...) segundo a medida de seus próprios interesses (...), e que por si mesmos tomem parte nele; além disso, que esperem o bem e não imaginem ou pensem que a nossa Instauratio seja algo interminável e sobre-humano; pois ela é, na verdade, o fim e o legítimo término de um erro interminável.” — Francis Bacon, Instauratio Magna, Prefácio.