Revista Inclusão & Sociedade
IMPACTOS DA PANDEMIA E OS DESAFIOS NA EDUCAÇÃO DE SURDOS
IMPACTS OF THE PANDEMIC AND CHALLENGES IN EDUCATION FOR THE DEAF
IMPACTOS DE LA PANDEMIA Y DESAFÍOS EN LA EDUCACIÓN PARA SORDOS
Amanda Roberta Raimundo dos Santos[1], Kate Mamhy Oliveira Kumada[2]
Resumo
Em 2020, a população mundial foi subitamente surpreendida pelos efeitos da pandemia causada pelo novo coronavírus, exigindo das escolas novas dinâmicas e estratégias educacionais sob o ensino remoto. Mediante as indagações conspícuas acerca dos impactos da pandemia e os desafios na educação de surdos, o presente estudo tem como objetivo investigar as estratégias docentes e os desafios na educação de alunos surdos durante as aulas remotas ofertadas no período pandêmico. Guiada pelos pressupostos teórico-metodológicos da pesquisa bibliográfica, o material foi coletado no Scientific Electronic Library Online (SciELO) e no Google Acadêmico, sendo eleitos como critérios de inclusão a seleção restrita à artigos científicos e as produções envolvendo a temática das estratégias e desafios docentes na educação básica durante o período de ensino remoto adotado na pandemia, com foco na educação de surdos. Os resultados apontaram que os principais desafios mencionados foram: falta de interação e momento para sanar dúvidas entre professores e educandos, ausência de intérpretes de língua de sinais, vulnerabilidade socioeconômica, ausência de um responsável com domínio da Libras e/ou escolaridade para auxiliar nas tarefas em casa, metodologia que não rompe as barreiras, falta de acessibilidade, infraestrutura das escolas e de capacitação dos educadores para lidar com estudantes surdos.
Palavras-chave: Pesquisa bibliográfica; educação dos surdos; Formação docente.
Abstract
In 2020, the world population was suddenly surprised by coronavírus pandemic effects, demanding new dynamics from schools and new strategies in remote learning. In front of questions about that and the challenges in deaf education, the goal of this study is to investigate the teaching practices and the challenges of deaf students during the online classes in pandemic. Guided by the theoretical-methodological of the bibliographic research, the material was collected on Scientific Electronic Library Online (SciELO) and on Google Scholar, with standard of inclusion the selection restricted to scientific articles and productions involving the subjects of teaching strategies and challenges in basic education during the remote classes focusing on the education of the deaf. The results presents that the main challenges were: lack of interactions between students and teachers or students by students; little opportunity to resolve doubts; vulnerability socioeconomic; lack of a interpreter of sign language or who in the families could support this students with homework; no inclusive schools and methodologies, infrastructure problems in schools and little investment in teacher training to support deaf students.
Keywords: Bibliographic research; education of the deaf; Teacher training.
Resumen
En 2020, la población mundial se vio repentinamente sorprendida por los efectos de la pandemia provocada por el nuevo coronavirus, exigiendo a las escuelas nuevas dinámicas y estrategias educativas bajo la enseñanza a distancia. A través de indagaciones conspicuas sobre los impactos de la pandemia y los desafíos en la educación de sordos, el presente estudio tiene como objetivo investigar las estrategias de enseñanza y los desafíos en la educación de estudiantes sordos durante las clases a distancia ofrecidas en el período de pandemia. Guiado por los supuestos teórico-metodológicos de la investigación bibliográfica, el material fue recolectado en Scientific Electronic Library Online (SciELO) y en Google Scholar, siendo elegido como criterio de inclusión la selección restringida a artículos y producciones científicas que involucran el tema de las estrategias y desafíos de la enseñanza en la educación básica durante el período de la enseñanza a distancia. adoptado en la pandemia, centrándose en la educación de los sordos. Los resultados mostraron que los principales desafíos mencionados fueron: falta de interacción y tiempo para resolver dudas entre docentes y estudiantes, ausencia de intérprete de lenguaje de señas, vulnerabilidad socioeconómica, ausencia de una persona responsable con dominio de Libras y/o escolaridad para ayudar con las tareas, metodología que no rompe barreras, falta accesibilidad, infraestructura de las escuelas y formación de los educadores para tratar con los alumnos sordos.
Palabras clave: Investigación bibliográfica; educación de los sordos; Formación de profesores.
1. Introdução
Desde o mês de março de 2020, a população mundial foi subitamente surpreendida pelos efeitos da pandemia causados pelo novo coronavírus (WHO, 2020). Situação pela qual pegou todos desprevenidos, necessitando remodelar os hábitos da sociedade de modo geral a partir da obrigatoriedade do uso de máscaras e cumprimento de protocolos de higiene mais rigorosos (SANTOS; FAVACHO; FRIEDRICH, 2021).
No Brasil, a pandemia afetou a população numa escala de grandes proporções, seja na área econômica, saúde e educacional. Sabe-se que a doença agravou e ampliou o número de pacientes nos hospitais, demandando, por exemplo, improvisar postos de emergência hospitalar para atender apenas pessoas sintomáticas ao COVID-19 (SANTOS; FAVACHO; FRIEDRICH, 2021).
Estima-se que em abril de 2020, durante o início da pandemia, cerca de 90% dos estudantes de todo o globo estavam sem aula presencial, exigindo que as instituições educacionais se organizassem para não causarem maiores prejuízos ao seu alunado (ARRUDA, 2020). Diante desse novo cenário, o governo federal emitiu, em 1º de abril de 2020, a Medida Provisória n. 934 que estabeleceu normas excepcionais sobre o ano letivo da educação básica e do ensino superior decorrentes das medidas para enfrentamento da situação de emergência de saúde pública. A referida medida flexibilizava a obrigatoriedade das aulas presenciais e do mínimo de dias letivos para o ano de 2020, permitindo a adoção do ensino remoto (BRASIL, 2020).
Na área educacional, Santos, Favacho e Friedrich (2021) ressaltam que algumas medidas para tentar reduzir o impacto do contágio foram adotadas nesse período, como a antecipação de feriados e férias escolares. Segundo os dados da Organização Mundial da Saúde (SILVA; EVANGELISTA; SOARES, 2021) foi também necessária a reformulação da rotina das atividades pedagógicas para a garantia de uma educação de qualidade, segura, igualitária e que ainda preservasse a saúde pública dos estudantes e profissionais envolvidos.
Essa realidade inédita condenou a todos a viverem um período de isolamento social, restringindo a maioria dos estudantes a uma educação e comunicação mediadas por vias digitais e tecnológicas. Com isso, a comunidade escolar, professores e alunos precisaram se adaptar ao novo formato de estudo remoto (SANTOS; SILVA; REZENDE, 2021).
Assim, testemunhamos os impactos na educação quando os alunos tiveram suas aulas presenciais cessadas, muitos professores precisaram se adequar ao trabalho remoto, mesmo sem domínio da tecnologia. Do mesmo modo, grande parte dos docentes que atuam com o público-alvo da educação especial enfrentou desafios como, por exemplo, pouco respaldo das redes e escolas para gravar aulas, utilizar plataformas e ambientes virtuais de aprendizagem e disponibilizar materiais didáticos para os estudantes (PAGAIME et al., 2020). Além disso, assim como os alunos, é importante considerar o fato que nem todos os professores tinham acesso à internet ou mesmo ao computador para preparar e ministrar suas aulas.
No contexto da educação de surdos, Shimazaki, Menegassi e Fellini (2020) afirmam que a oferta do ensino remoto durante o contexto pandêmico potencializou ainda mais a sua exclusão escolar. Isso ocorreu, pois suas especificidades linguísticas e de ensino e aprendizagem, frequentemente não foram atendidas. Por essa razão, faz-se necessário ampliar o debate que contemple o ensino remoto e a educação de surdos.
Segundo Santos, Favacho e Friedrich (2021), a pandemia trouxe consigo a implementação do isolamento social evidenciado pelo distanciamento físico que distende para alunos surdos. Esse isolamento aumenta as dificuldades tanto no ensinar como no aprender, pois a ausência de momentos que propicia a comunicação resulta em vulnerabilidade emocional, insegurança e incapacidade.
Para minimizar esse impacto, Santos, Favacho e Friedrich (2021) justificam que é necessário disponibilizar conteúdos escritos, facilitar e propiciar a leitura labial e o respeito pela identidade do aluno em sua primeira língua, a saber a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Silva, Evangelista e Soares (2021) contribuem salientando que o surdo deve aprender a Libras concomitante à língua portuguesa escrita, objetivando compreender as duas línguas para sua inclusão em sala de aula regular junto aos ouvintes. Tal contexto se agrava, pois de acordo com Sacks (1998), cerca de 90 a 95% dos surdos nascem em famílias ouvintes, realidade que preconiza que o aprendizado da Libras, majoritariamente, ocorrerá na escola por profissionais que tenham formação para o ensino dessa língua, em consonância com o Decreto n. 5.626 (BRASIL, 2005).
Assim, conforme o Decreto n. 5.626, o perfil docente para atuar nos anos finais do ensino fundamental, ensino médio e na educação superior deve ocorrer por meio de cursos de graduação de licenciatura em Letras Libras ou em Letras Libras/Língua Portuguesa como segunda língua (BRASIL, 2005).
Para a educação infantil e anos iniciais, a formação do professor para o ensino de Libras poderá ser realizada dentro do curso superior de Pedagogia, como também é aceitável em curso de modalidade normal em nível médio, desde que Libras e Língua Portuguesa escrita sejam incorporadas nas línguas de instrução, suscitando a formação bilíngue (BRASIL, 2005).
Com base nesse contexto, sem que a família ouvinte tenha um domínio da Libras para comunicação e orientação dos conteúdos escolares, acredita-se que os estudantes surdos tiveram suas dificuldades agravadas durante a suspensão das aulas presenciais ocasionadas pela pandemia.
Desta forma, esta pesquisa bibliográfica tem como objetivo investigar as estratégias docentes e os desafios na educação de alunos surdos durante as aulas remotas ofertadas no período pandêmico.
Para isso, além desta seção introdutória, o presente artigo está organizado em três partes, a saber: procedimentos metodológicos, resultados e discussão e as considerações finais.
2. Procedimentos metodológicos
Para este trabalho, optou-se por realizar uma pesquisa bibliográfica que, de acordo com Almeida (2011), busca semelhanças entre conceitos, ideias e características, podendo unir dois ou mais temas de pesquisa, tal como ocorre aqui com a junção da educação de surdos e o período da pandemia.
Para Severino (2007) e Alves (2020), esse modelo de pesquisa se evidencia a partir do registro de informações elaboradas anteriormente e disponibilizadas para consulta, sendo caracterizada como uma das suas vantagens a possibilidade de o pesquisador abranger de forma mais ampla o fenômeno investigado. Segundo os autores, este tipo de pesquisa permite incluir desde documentos impressos, artigos científicos e outras publicações periódicas, até dissertações, teses e livros.
É importante destacar que com base em estudiosos da metodologia científica, Batista e Kumada (2021) destacam que todas as produções científicas devem partir do levantamento de literatura como uma etapa inicial da pesquisa, objetivando encontrar trabalhos análogos ao tema investigado. Por meio dessa etapa, o pesquisador poderá identificar a lacuna de pesquisas na área, justificando como seu estudo trará ineditismo, originalidade e contribuição social. Contudo, há pesquisas que não restringem esse procedimento metodológico a uma etapa, tornando-se integralmente dedicadas ao uso de fontes bibliográficas. Nesse sentido, as autoras diferenciam os três conceitos, a saber: pesquisa bibliográfica, fontes bibliográficas e revisão bibliográfica.
Para contextualizar esses conceitos, faz-se oportuno identificar que a revisão bibliográfica, como pontuado anteriormente, consiste na etapa preliminar das pesquisas. Enquanto as fontes bibliográficas estão relacionadas à natureza das fontes da pesquisa[3], e nesse caso abrangem desde livros, publicações periódicas e outros impressos em geral (SEVERINO, 2007; ALVES, 2007). Cumpre pontuar que, as bases de dados digitais (via internet e CD ROMs) também são incluídas nas pesquisas com fontes bibliográficas.
Por sua vez, o conceito da pesquisa bibliográfica, que é o modelo com o qual esta pesquisa se alinhou, está correlacionado ao processo de coleta de dados no qual o seu delineamento é exclusivamente pautado em materiais bibliográficos, ou seja, disponíveis na literatura. Nesse sentido, Batista e Kumada (2021) se pautam em diferentes autores para caracterizar esse tipo de estudo a partir da abrangência de produções científicas que respaldam a assimilação de determinado tema ou problemática. Em síntese, a pesquisa bibliográfica se guia “[...] exclusivamente na busca, consulta e análise de materiais disponíveis na literatura, recebendo o título de pesquisa bibliográfica” (GIL, 2002, p. 44).
Diante do exposto, esta pesquisa foi guiada pelos pressupostos teórico-metodológicos da pesquisa bibliográfica. Para isso, foram eleitos dois critérios de inclusão, a saber: (1) a seleção restrita à artigos científicos e; (2) produções de artigos envolvendo a temática das estratégias e desafios docentes na educação básica durante o período de ensino remoto adotado na pandemia ocasionada pelo vírus sars cov 2, com foco na educação de surdos.
Como critérios de exclusão, além de fuga ao tema e repetição de trabalhos, foram descartadas as produções que não fossem artigos, ou seja, não foram incorporados, por exemplo, os textos advindos de dissertações de mestrado e teses de doutorado. Essa decisão foi feita com base na inviabilidade de tempo hábil para realizar uma leitura extensiva considerando o cronograma da presente pesquisa vinculada ao trabalho de conclusão de um curso de especialização em educação especial e inclusiva. Além disso, tendo em vista a temática recente da pandemia, aventou-se que, no momento do levantamento bibliográfico, não haveria tempo suficiente para a conclusão de pesquisas de mestrado e doutorado, visto que essas geralmente duram em média, respectivamente, dois a quatro anos.
Isso posto, os repositórios consultados para nossa pesquisa bibliográfica foram Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Google Acadêmico. Com base em Noronha e Ferreira (2000), a análise de trabalhos bibliográficos acerca de uma temática são situados em um determinado período, esse tipo de pesquisa permite reunir um apanhado de informações com novas ideias e métodos sugestivos para novos questionamentos e pesquisas futuras. Desse modo, a busca realizada na base de dados da SciELO ocorreu em 15 de dezembro de 2021 e no Google Acadêmico em 31 de dezembro de 2021.
A busca na SciELO foi feita com as combinações das palavras-chave: (1) pandemia AND surdos; (2) coronavírus AND surdo; (3) pandemia AND Libras; e (4) coronavírus AND Libras. Tal como ilustra a Tabela 1, a partir da consulta com as palavras-chave pandemia AND surdos foram encontrados dois artigos com ano de publicação de 2021; já para coronavírus AND surdo não foram obtidos resultados, somente após colocar a palavra “surdos” no plural, três resultados foram retornados, porém, dois deles eram repetidos. Ao combinar as palavras pandemia AND Libras não houve resultado, então optou-se por combinar coronavírus AND Libras possibilitando o encontro de apenas um resultado. Todas as buscas realizadas na base de dados da SciELO não tiveram aproveitamento de estudo por não atenderem aos critérios de inclusão estabelecidos no presente estudo.
Objetivando maiores resultados e informações para a pesquisa bibliográfica, optou-se por ampliar a busca na base de dados do Google acadêmico, usando a combinação de palavras “pandemia” e “surdos”. Nesta consulta, conforme pode ser acompanhado na Tabela 1, foram encontrados 2200 resultados, porém devido a gama de informações que poderia ter em todos esses resultados e por falta de tempo hábil para a leitura, delimitou-se a análise dos resultados advindos das dez primeiras páginas (ou seja, dos 100 primeiros trabalhos). Isso porque, observou-se que, posteriormente, as publicações encontradas já apresentavam cada vez mais distanciamento da temática investigada.
Tabela 1 - Dados do levantamento bibliográfico realizado na SciELO e no Google Acadêmico
Combinação de palavras-chaves usadas | Repositório consultado | Resultados | Estudos aproveitados |
pandemia AND surdos | SciELO | 2 | 0 |
coronavírus AND surdos | SciELO | 3 | 0 |
pandemia AND Libras | SciELO | 0 | 0 |
coronavírus AND libras | SciELO | 1 | 0 |
"pandemia" "surdos" | Google Acadêmico | 2200 (100) | 6 |
Fonte: SciELO e Google Acadêmico (2021).
Com essa análise dos 100 primeiros trabalhos advindos da consulta ao Google Acadêmico, foram selecionados seis estudos, sendo duas pesquisas bibliográficas e quatro pesquisas de campo, das quais três tiveram o ano de publicação de 2020 e três de 2021. Tal marcação cronológica já era esperada, visto que a pandemia se deflagra no cenário brasileiro a partir de março de 2020 e a data de levantamento final desta pesquisa é de dezembro de 2021.
3. Resultados e Discussão
Para a organização dos resultados e discussão desta pesquisa, na sequência são apresentadas duas análises, sendo a primeira baseada no delineamento metodológico dos dados concernente às pesquisas encontradas (tal como a região, os participantes etc) e, a segunda perspectiva guiada por uma descrição teórica desses estudos.
3.1 Delineamento das produções bibliográficas sobre a educação de surdos na pandemia
Dos seis artigos selecionados, quatro realizaram pesquisa de campo e abordaram os desafios dos surdos e estratégias didáticas (SHIMAZAKI; MENEGASSI; FELLINI, 2020; LEMES; PAIVA, 2021; ALVES; GOMES, 2020; SILVA; EVANGELISTA; SOARES, 2021). Entre o perfil dos participantes das pesquisas, o artigo de Silva, Evangelista e Soares (2021) não caracteriza o público da pesquisa (seja idade, etapa, modalidade de ensino ou outras características), descrevendo apenas que a pesquisa foi realizada com professores e tradutores e intérpretes de Libras-Português (Tilsp)[4]. A omissão de tais informações prejudica uma análise mais assertiva sobre a concentração de estudos por modalidade ou etapa da educação.
Nesse sentido, apenas três produções divulgaram a idade dos alunos investigados, sendo a pesquisa de Lemes e Paiva (2021) feita com professores, alunos e familiares, sendo os aprendizes de 8 e 9 anos. Por sua vez, Alves e Gomes (2020) dedicaram sua pesquisa apenas a estudantes, sendo estes caracterizados entre 9 e 11 anos. Logo, ambos os artigos contemplam os anos iniciais do ensino fundamental. Já Shimazaki, Menegassi e Fellini (2020) descrevem que sua investigação compreende professores e alunos, sendo tais participantes caracterizados de 0 a 50 anos, pertencentes a uma escola bilíngue de educação básica, que atende desde a educação infantil, anos iniciais e finais do ensino fundamental e ensino médio. Nessa última, incluíram-se alunos do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e da Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Observa-se a ausência de estudos focalizando a educação infantil, os anos finais do ensino fundamental e ensino médio, sendo que apenas o estudo de Shimazaki, Menegassi e Fellini (2020) tiveram uma abrangência maior do público, porém a forma como descreveram a faixa etária não contribui para um delineamento mais preciso, visto que a faixa etária apresentada considerava a idade dos professores participantes também. Ademais, chama a atenção o fato de terem sido localizadas apenas quatro pesquisas de campo, mesmo nos anos iniciais do ensino fundamental com o alunado surdo, tradicionalmente já invisibilizado nas escolas.
Ainda sobre o perfil dos participantes das pesquisas, os dados evidenciam que a maioria dos estudos teve como sujeito de pesquisa professores (n=3) e alunos (n=3) e a minoria abordou familiares e Tilsp, sendo: a) três pesquisas com amostra de professores e alunos (SHIMAZAKI, MENEGASSI; FELLINI, 2020; SOUZA; VIEIRA, 2020; SANTOS; FAVACHO; FRIEDRICH, 2021) b) uma com professores, alunos e familiares (LEMES; PAIVA, 2021); c) uma com professores e Tilsp (SILVA; EVANGELISTA; SOARES, 2021); d) uma apenas com alunos (ALVES; GOMES, 2020).
No tocante ao georreferenciamento das pesquisas de campo, observou-se que a maior concentração está na região sudeste (sendo desenvolvidos um estudo no estado de Minas Gerais e um no Rio de Janeiro). Mesmo sendo a região sudeste a mais recorrente, nota-se que não foram evidenciados estudos no estado de São Paulo, que é o mais populoso. Outros estados também deixaram de ser abrangidos, sendo Paraná o único representante da região Sul e Tocantins na região Norte. Tal panorama demonstra a carência de mais pesquisas que investiguem os impactos da pandemia na educação de surdos nos demais estados brasileiros. Essa defasagem compromete o mapeamento das condições educacionais desse grupo no cenário pós-pandemia brasileiro.
Além das pesquisas de campo citadas, foram incluídos em nossa pesquisa outros dois artigos de pesquisa bibliográfica (SOUZA; VIEIRA, 2020; SANTOS; FAVACHO; FRIEDRICH, 2021), os quais têm em comum o ensino regular como a modalidade escolar investigada. Ambos os artigos abordam os desafios dos surdos e estratégias didáticas a partir de fontes bibliográficas ou especulações de como o contexto pandêmico afetou a educação de surdos.
Na sequência, uma breve síntese dos estudos localizados na presente pesquisa é compartilhada.
3.2 Contribuições das pesquisas para se pensar a educação de surdos na pandemia
No primeiro artigo intitulado “Ensino remoto para alunos surdos em tempos de pandemia”, Shimazaki, Menegassi e Fellini (2020) realizaram uma pesquisa de campo, a partir de um estudo pontual e exploratório, em uma escola de educação bilíngue para surdos em município a Oeste do estado do Paraná com seis professores, três alunos. Para tal investigação os autores utilizaram três questionários distintos com foco a entender como a comunidade escolar estava lidando com o processo de ensino e aprendizagem dos estudantes surdos durante a pandemia. A partir das respostas obtidas, observou-se que na escola investigada foram disponibilizados para auxiliar os alunos durante o ensino remoto, vídeos postados no YouTube, slides e materiais impressos.
Segundo Shimazaki, Menegassi e Fellini (2020), os professores pontuam que o ensino remoto é desafiador na elaboração das suas aulas, pois acreditam que os alunos surdos aprendem de forma sinestésica, por meio da interação, escrita e releitura da escrita. Salientam ainda que, no ensino presencial, é possível sanar as dúvidas imediatas desses aprendizes, tantas vezes quanto precisarem. Por outro lado, no ensino remoto essa mesma dinâmica não ocorre e, muitas vezes, o aluno precisa fazer as atividades sozinho sem ter a interação professor-aluno e aluno-aluno, sendo desprovido de interlocutores com domínio na Libras. Conforme os autores descrevem, essa percepção docente é reforçada pelos estudantes surdos participantes na pesquisa, ao alegarem que o ensino remoto não consegue oferecer o esclarecimento de dúvidas e nem a interação social professor - aluno e com os demais colegas. Desse modo, os participantes convergem com relação ao desafio para manter a interação durante o ensino remoto, o qual acentua o distanciamento entre a relação docente e discente.
Outro agravante é que, assim como os estudantes ouvintes, alguns educandos surdos se encontram em situação de vulnerabilidade econômica e não conseguem acessar atividades remotas por falta de internet e por morarem distante da cidade (SHIMAZAKI; MENEGASSI; FELLINI, 2020). Assim, a falta de equipamentos (celular, televisão, computador ou notebook) ou acesso a internet, frequentemente, impossibilitam o acompanhamento dos estudos e o cumprimento das atividade remotas pelos alunos surdos
As professoras da escola bilíngue exprimem a preocupação na falta de condições de alguns familiares para prestar o apoio necessário aos estudantes surdos. Muitos familiares são ouvintes que desconhecem a Libras, e por não compreenderem o enunciado ou por falta de domínio em Libras sentem dificuldades para mediar o estudo junto aos seus filhos (SHIMAZAKI; MENEGASSI; FELLINI, 2020).
Os educandos pontuam ainda que no ensino remoto ocorre a flexibilidade de horário para desenvolver a atividade e que a disponibilidade dos vídeos via Youtube os permite estudar quando querem, mas que tal liberdade atrapalha, desmotiva e dificulta o processo de aprendizagem (SHIMAZAKI; MENEGASSI; FELLINI, 2020).
De acordo com os resultados obtidos em sua pesquisa de campo Shimazaki, Menegassi e Fellini (2020, p.15) concluem que o ensino remoto nessa escola não obteve resultados positivos para educação de surdos por não contemplar “a questão linguística de apropriação e desenvolvimento na língua materna e do português escrito”. Logo, sugerem que as escolas de surdos deveriam pautar-se nas necessidades específicas de seus alunos, oferecendo meios de comunicação, horário e um espaço dentro da escola, para sanar dúvidas de forma mais acessível.
Percebe-se que dos três alunos entrevistados pelas autoras Shimazaki, Menegasse e Fellini (2020), a queixa destaca aspectos ambientais, derivados sobretudo da falta de interação, diante das dificuldades em poder tirar as dúvidas com os professores, das perdas da interação aluno-aluno e aluno-professor. Vale ressaltar também a ausência de acompanhamento de um Tilsp, da falta de apoio de um familiar ou das condições socioeconômicas do alunado para acompanhar o ensino remoto. Desse modo, os principais desafios estão nas barreiras ambientais, não sendo exclusivamente o fato de serem surdos a condição impeditiva para realizar as atividades remotas. Conjectura-se então que, nesse caso, a escola deveria priorizar estratégias que favoreçam a aproximação entre aluno-aluno e professor-aluno no retorno das atividades presenciais, suprindo uma condição que foi negligenciada durante o ensino remoto.
Lemes e Paiva (2021) tem um perfil de pesquisa de campo similar a Shimazaki, Menegassi e Fellini (2020), ambos abordam suas observações com alunos de escolas públicas, as quais optaram por estratégias vídeos e materiais impressos para o ensino de aulas remotas.
Entretanto, a terminologia utilizada por Lemes e Paiva (2021) para se referir ao ensino remoto adotado pelo estado de Minas Gerais é o de Regime Especial de Atividades Não Presenciais (REANP).
Os autores supracitados, convergem também na preocupação de como o ensino remoto tem alcançado os alunos surdos priorizando seu contato com sua primeira língua sem ter a interação social nesse período pandêmico (LEMES; PAIVA, 2021).
Logo, o artigo intitulado “Libras em Pílulas: Incitando o Interesse Escolar dos Alunos Surdos e Ouvintes em Tempos de Pandemia”, dos autores Lemes e Paiva (2021), tem uma abordagem qualitativa e etnográfica em que usaram de sua experiência profissional escolar, com dois alunos surdos de oito e nove anos de uma escola do estado de Minas Gerais que buscou refletir acerca das dificuldade e contribuições da educação a distância no processo de aprendizagem de estudantes surdos.
Dentre os desafios salientados pelos autores Lemes e Paiva (2021), encontram-se questões referentes aos materiais disponibilizados pelo governo mineiro. Tais materiais desconsideravam as necessidades educacionais dos alunos surdos, pois eram produzidas em Língua Portuguesa com metodologia fonética. Sendo assim, não garantia equidade na aprendizagem para o alunado surdo. Outro agravante verificado pelos autores, foi a falta de infraestrutura física e digital das escolas, lentidão da internet e ausência de formação docente no que tange a Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs).
Devido os alunos alvo da pesquisa não terem computador em casa e acesso limitado à internet, dificuldade esta também mencionada por Shimazaki, Menegasse e Fellini (2020), fora idealizado por um Tilsp e a gestão escolar, vídeos em Libras para ser disponibilizado aos alunos via Whatsapp, pois seus familiares possuem smartphones facilitando assim o acesso aos materiais ofertados pela escola (LEMES; PAIVA, 2021).
De acordo com os autores Lemes e Paiva (2021), a estratégia adotada para alcançar os alunos era que, quando os vídeos ficarassem prontos, fossem disponibilizados para os alunos e familiares. O Tilsp contactava a família e realizava chamada de vídeo com os alunos para auxiliá-los nas atividades.
O foco dos vídeos era o ensino de vocabulário em Libras e em Língua Portuguesa, enviados semanalmente para os responsáveis dos alunos através de um grupo de Whatsapp com a participação dos familiares, gestão escolar, professores regentes de sala, Tilsp e a supervisão escolar (LEMES; PAIVA 2021).
Lemes e Paiva (2021) pontuam que para se obter resultados do ensino aprendizagem, foi necessário criar um vínculo com seus alunos e familiares. Dessa forma, o suporte tecnológico e o aplicativo adotado pela escola, foram essenciais para as crianças que tinham muito ou nenhum contato com sua primeira língua em casa, uma vez que seus pais eram ouvintes.
A suspensão de aulas e o distanciamento social causado pelo coronavírus agravaram ainda mais as práticas de leitura e escrita das crianças surdas. Assim, buscou-se estratégias para dirimir os impactos e manter a aproximação com alunos e seus familiares, num trabalho conjunto (LEMES; PAIVA, 2021).
Lemes e Paiva (2021) tiveram como resultado que, as adaptações didáticas realizadas pelos professores, a aproximação mesmo que virtual com os alunos e familiares juntamente com o auxílio das tecnologias, são fatores fundamentais e que agregam aos estímulos e desenvolvimento dos alunos surdos e dos colegas ouvintes uma vez que a estratégia dos vídeos de no máximo 1 minuto e meio foram disponibilizados para todos os alunos com interação em Libras o que resultou segundo os autores num vínculo de afetividade e comunicação entre a turma.
Shimazaki, Menegassi, Fellini (2020) descrevem a ausência da família dos alunos no auxílio à realização das atividades por não terem muito ou nenhum domínio de Libras, enquanto Lemes e Paiva (2021) pontuam que os pais dos alunos são ouvintes e que contribuíram de forma significativa com o ensino remoto ajudando-os na realização das atividades propostas.
Entendemos que, possivelmente, o material de estudo disponibilizado em vídeo no grupo de Whatsapp e com a participação dos alunos, das famílias, professores e Tilsp, tenha sido o diferencial para o sucesso da estratégia adotada pela escola para alcançar seus alunos, por ser um recurso de interação simultânea de fácil acesso (por ser gratuito e intuitivo).
Como podemos perceber, é indissociável falar em ensino remoto sem remeter ao uso de tecnologias digitais. Assim como nos artigos anteriores de Shimazaki et. al (2020) e Lemes e Paiva (2021) que abordaram o uso das tecnologias como ferramenta favorecedora para o ensino remoto, o trabalho intitulado como “A utilização das tecnologias assistivas para alunos surdos em tempos de pandemia”, dos autores Souza e Vieira (2020), tem a mesma abordagem, sendo um estudo bibliográfico, como o objetivo de destacar a relevância da tecnologia assistiva como ferramenta para auxiliar os professores em sua didática em apoio a inclusão dos alunos surdos.
Os autores Souza e Vieira (2020) salientam que as tecnologias da informação e da comunicação podem promover uma aprendizagem significativa para alunos surdos mesmo que durante o ensino remoto, fato esse evidenciado também nas pesquisas de Shimazaki, et. al (2020) e Lemes e Paiva (2021) ao relatarem que essa foi a estratégia comumente utilizada por seu público de pesquisa.
Souza e Vieira (2020) abordam o desafio por parte dos docentes em não estarem preparados para lidar com a singularidade e dificuldades de aprendizagem de seus educandos. Para os autores, os professores devem considerar agregar em suas metodologias uma linguagem visual, como, por exemplo, desenhos, fotos e vídeos para ajudar na compreensão das aulas especialmente na modalidade remota. Assim, chama a atenção, o fato de os participantes da pesquisa destacarem a dificuldade do ensino remoto com estudantes surdos, na falta de capacitação para lidar com esse grupo de estudantes, ao invés de focalizarem o despreparo para manusear as tecnologias digitais. Faz-se mister notar que a narrativa do despreparo para lidar com público da educação especial não está enquadrada apenas no período da suspensão das aulas presenciais em virtude da pandemia, sendo já denotado por estudos anteriores tal como o de Pletsch (2009).
Esboçando preocupação com o “Estudo sobre a educação remota para alunos surdos sob o olhar do professor”, os autores Santos, Favacho e Friedrich (2021), por meio de pesquisa de cunho bibliográfico em que buscaram fazer levantamento de dados para compreender a dificuldade e dinâmica utilizada pelos professores para ensinar o aluno surdo considerando o período pandêmico. Os autores relatam ainda que por meio das plataformas digitais, possibilitou aos alunos através dos ambientes virtuais aulas síncronas em que o professor consegue sanar as dúvidas em tempo real com seus alunos surdos, assim como também a utilização das apostilas impressas, livros e vídeos com legendas utilizando técnicas e sempre manter os lábios visíveis de modo que a fala seja bem articulada pelo docente para que o surdo consiga fazer leitura labial, dessa forma, conseguirá minimizar os prejuízos da educação a distância (SANTOS, FAVACHO, FRIEDRICH, 2021).
Posteriormente, no artigo “Educação de pessoas surdas em tempos de pandemia: linguagem e relação de poder”, as autoras Alves e Gomes (2020), por meio de um estudo de caso realizado no Município de Santo Antônio de Pádua - RJ com o intuito de analisar os efeitos do COVID-19 em duas crianças surdas da rede municipal com faixa etária de 9 e 11 anos.
Foram realizadas coletas de dados por meio de reuniões on-line dos profissionais da educação das escolas de cada aluno e com o Núcleo de Apoio à Inclusão Educacional (NAIE) que monitora a educação para saber se os alunos surdos têm um ensino com equidade e em conversa com os familiares em que se constatou a dificuldade de acesso a internet e que uma das alunas mora em zona rural e as professoras levam as atividades impressas até a casa dela. (ALVES; GOMES, 2020).
De acordo com Alves e Gomes (2020), a aluna que mora na zona rural recorre durante a pandemia, a uma colega que mora próximo a sua casa para ajudá-la na realização das atividades propostas pelos professores. Essa ação fez as autoras refletirem sobre os desafios enfrentados pelos Tilsp, pois tais profissionais não tendo contato direto com o educando, sentem seu trabalho limitado.
Vale ressaltar que essa estratégia de levar as atividades impressas para a aluna não é suficiente para sua aprendizagem, pois não garante a Libras como língua de instrução, como também não respeita a condição bilíngue em que considera a Libras como primeira língua e português como segunda língua.
No caso do segundo participante da pesquisa que tem acesso a internet, facilitou um pouco seus estudos, mesmo não conseguindo interagir nos grupos de WhatsApp por não ter domínio do português escrito. Com isso, a Tilsp optou por realizar chamadas de vídeo via WhatsApp com conversas em Libras para transmitir os conteúdos propostos pela professora (ALVES; GOMES, 2020).
Na sequência, no artigo: “A realidade da educação de surdos no cenário pandêmico em duas escolas públicas da rede estadual de Guaraí”, Silva, Evangelista e Soares (2021) realizaram uma pesquisa quali-quanti. Tiveram como objetivo analisar a realidade da educação de surdos durante a pandemia, com auxílio da coleta de dados através de questionários tendo como alvo de pesquisa professores da sala e Tilsp da rede regular estadual de ensino de Guaraí, no Tocantins.
Os participantes da pesquisa de Silva, Evangelista e Soares (2021), pontuam que a estratégia adotada nas aulas foi o uso de vídeos para os alunos surdos e ouvintes disponibilizados em plataformas on-line. As autoras salientam, assim como nos artigos anteriormente citados, a importância dos métodos ativos em prol dos alunos surdos, principalmente, as atividades que explorem a percepção visual em reconhecimento da condição desses estudantes como sujeitos visuais (SILVA; EVANGELISTA; SOARES, 2021).
Deste modo, ao término da pesquisa, Silva, Evangelista e Soares (2021) corroboram resultados de Shimazaki, Menegassi, Fellini (2020) ao concluíram que um dos grandes desafios encontrados no ensino remoto para estudantes surdos foi a dificuldade da aproximação professor/aluno. E, em consonância com Souza e Vieira (2020), os dados de Silva, Evangelista e Soares (2021) demonstram que há uma forte frustração por parte dos docentes fundamentada pelo sentimento despreparo na sua formação para desenvolver materiais didáticos apropriados para os alunos surdos. Com base nos estudos aqui apresentados, foi possível compilar as ferramentas e recursos didáticos mais adotados pelos participantes das pesquisas no Quadro 1.
Quadro 1 - Dados das ferramentas didáticas utilizadas pelas escolas
Quadro com 6 colunas com os materiais didáticos mencionados nos estudos, na seguinte ordem: material impresso, vídeos, vídeo com legenda, whatsapp e plataforma on-line. Por sua vez, há no quadro 7 linhas contendo os autores e ano de publicação. Os dados representam que os autores Shimazaki, Menegassi e Guizzo Neto (2020) mencionaram o material impresso, vídeos e plataforma on-line; Lemes e Paiva (2021) citaram material impresso, vídeo com legenda e whatsapp; Souza e Vieira (2020) indicaram o uso de plataforma on-line; Santos, Favacho e Friedrich (2021) indicaram material impresso, vídeos com legenda e plataforma on-line; Alves e Gomes (2020) citaram material impresso, vídeos e whatsapp; e Silva, Evangelista e Soares (2021) mencionaram vídeos e plataformas on-line. Fim da descrição.
Fonte: Elaborado pela autora.
Assim, como é possível observar, a plataforma on-line foi a ferramenta citada com maior recorrência, sendo utilizada nos estudos dos autores Shimazaki, Menegassi e Fellini (2020); Souza e Vieira (2020); Santos, Favacho e Friedrich (2021) e Silva, Evangelista e Soares (2021).
A segunda estratégia mais utilizada para driblar a suspensão das aulas presenciais, foi o uso de materiais impressos (dentre esses foram citados, por exemplo, apostilas e livros). Não foi possível captar como esse recurso foi adaptado para a realidade da aprendizagem do alunado surdo, para acolher e respeitar a Libras como primeira língua e meio de instrução desse grupo. Assim, uma vez que o material está escrito em português e mesmo que conste uma ilustração em Libras, cumpre problematizar se esta seria insuficiente. A forma estática com a qual a ilustração é apresentada pode ser restrita para expressar a dinamicidade, movimento e outros aspectos da modalidade visuomotora das línguas de sinais.
Contudo, tais resultados convergem com o que foi encontrado na pesquisa “Inclusão escolar em tempos de pandemia” de Pagaime et al. (2020), a qual identificou que o material impresso foi a estratégia mais utilizada pelos professores que atuavam junto aos estudantes da educação especial.
Outro aspecto analisado nesta pesquisa diz respeito aos desafios enfrentados durante o ensino remoto, sendo ilustrados as principais menções na Gráfico 1.
Gráfico 1 - Desafios mencionados na educação de surdos
Gráfico de 9 colunas horizontais azuis com o eixo vertical representando os desafios e o eixo horizontal a quantidade de menção nos estudos. Os dados revelam que o desafio da Acessibilidade e da falta de interação foram citados, respectivamente, por 4 artigos. A condição socioeconômica foi um desafio citado em 3 artigos e falta de capacitação docente em 2 artigos. Os desafios momento para sanar dúvida, ausência de Tilsp, apoio familiar, metodologia inadequada e infraestrutura das escolas tiveram uma menção cada. Fim da descrição.
Fonte: Elaborado pela autora
Por sua vez, os principais desafios foram: falta de interação entre professor - aluno, inviabilizando momentos para sanar dúvidas, assim como também a ausência de Tilsp para dar o suporte adequado e necessário no atendimento às necessidades do surdo.
As condições socioeconômicas que afetam o acesso a internet e equipamentos, os quais serviriam de suporte na realização das atividades. Constatou-se também como um agravante, a falta de um apoio familiar com proficiência em Libras e/ou de um responsável para auxiliar nas tarefas com escolaridade para auxiliar nas tarefas do ensino remoto, condições que comprometeram a aprendizagem de aprendizes surdos.
Outras barreiras evidenciadas durante o período de suspensão das aulas presenciais, foram a falta de acessibilidade, no que tange a adaptação dos materiais que asseguram a aprendizagem favorável ao desenvolvimento do aluno, como também a falta de capacitação docente e suas metodologias no preparo para lidar com estudantes surdos ou PAEE.
4. Considerações finais
Mediante as discussões apresentadas é possível concluir que mesmo antes da pandemia a Educação de surdos já apresentava grandes desafios e limitações para o atendimento adequado e de qualidade para o alunado surdo. Durante a pandemia esses impasses se acentuaram. Professores/as mudaram ou tentaram adequar o contexto de sala de aula para o formato remoto, mas as barreiras continuaram latentes, devido ao isolamento social impossibilitando as interações e a valorização da Libras como primeira língua.
Para estudos vindouros, sugere-se a análise do retorno do ensino remoto ao presencial. Acredita-se na importância de se mapear como esses estudantes foram atendidos nesse período pós-pandemia, buscando estratégias e intervenções para amenizar os impactos sobre a sua escolarização, já bastante fragilizada pelas barreiras linguísticas e comunicacionais.
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[1] Especialista em Educação Especial e Inclusiva, UFABC, Brasil, Santo André.
[2] Doutora em Educação, UFABC, Brasil, Santo André.
[3] A esse respeito, Severino (2007) explica que a natureza das fontes determina se a pesquisa é de campo, documental, experimental ou bibliográfica.
[4] Os referidos autores utilizam somente a expressão "intérprete" ou "intérprete de Libras", sendo que em outras referências termos como "professor intérprete", dentre outras terminologias são encontradas na literatura pesquisada para designar o profissional responsável pela tradução e interpretação Libras-Português. Buscando padronizar essa falta de consenso para sua designação, adotamos nesta pesquisa o termo Tilsp (amplamente conhecido nos estudos sobre educação de surdos e língua de sinais), independentemente do conceito usado pelos autores.